"Ir ao fundo necessário para arpoar a forma possível"


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Nuno Manuel Maria Caupers de Bragança nasceu a 12 de Fevereiro de 1929 em Lisboa e morreu a 7 de Fevereiro de 1985, na mesma cidade. Tudo na sua vida foi matéria de escrita e esta tema fundamental para a qual todos os seus romances remetem. A configuração autobiográfica da matéria narrativa reporta-nos para um tempo único da história portuguesa, para uma geração fundamental na construção política e cultural de um país e para um momento de renovação da literatura portuguesa.
Descendente único de uma família da mais alta aristocracia portuguesa, facto este que influenciou toda a sua vida e obra, iniciou o curso de Agronomia, transitando depois para Direito. Em meados dos anos 50 integrou a equipa do jornal Encontro (órgão da Juventude Universitária Católica), onde publicou os seus primeiros textos literários. Foi ainda nesta década que começou a interessar-se por cinema, dedicando-se à crítica cinematográfica e fundando com os amigos o cineclube cristão Centro Cultural de Cinema, ao mesmo tempo que se envolvia cada vez mais com o movimento do Catolicismo Progressista e na luta contra o regime salazarista. A partir de 1958, colaborou com o grupo da Livraria Moraes Editores, entretanto comprada por António Alçada Baptista, e com a revista O Tempo e o Modo. O agravamento da situação política do país fez com que, nos anos 60, se empenhasse mais socialmente, militando no MAR (Movimento de Acção Revolucionária) e na Resistência Cristã.
Em 1963 adaptou e escreveu os diálogos de Os Verdes Anos, realizado por Paulo Rocha, considerado o filme pioneiro do Cinema Novo Português. Mais tarde, em 1970, co-assinou com Gérard Castello Lopes, Fernando Lopes e Augusto Cabrita a curta-metragem Nacionalidade: Português, que se estreou em 1973.
Em 1968 fixou-se definitivamente em Paris, trabalhando como conselheiro técnico da missão permanente de Portugal para os problemas de trabalho junto da OCDE, função que irá desempenhar até 1972, conciliando-a com a crescente actividade literária e a cada vez mais arriscada e comprometida acção política.
Um ano mais tarde publicou o seu primeiro e mais emblemático romance – A Noite e o Riso, verdadeira ‘pedrada no charco’ na literatura portuguesa da época. Regressou a Portugal em 1972, disposto a publicar clandestinamente o seu segundo romance Directa que, no entanto, só seria publicado em 1977. No ano de 1981 publicou o seu terceiro romance, Square Tolstoi. Estes três romances formam um dos conjuntos mais originais da nossa literatura e uma singular aventura de escrita que se destaca pela linguagem viva, pela espessura do seu universo narrativo, pela arquitectura em que assenta e pela forma como a inscrição autoral se vai insinuando e teorizando ao longo das páginas.
Três anos mais tarde, em 1984, publicaria ainda a colectânea de contos Estação. Postumamente foi publicada a novela Do Fim do Mundo, de difícil datação no seu percurso literário.
Ainda hoje, aos olhos do séc. XXI, uma das lições a aprender com Nuno Bragança parece ser esse raro e harmonioso contrato entre uma modernidade que lhe é absolutamente intrínseca e um pacífico e generoso uso da tradição literária, que lhe é inevitável e natural enquanto herança cultural: «Para o português contemporâneo, o problema da sua iniciação não é o da dificuldade de entrar na prosa existente, mas o de sair dela. Isto não é tão simples como parece. Nada. Não existe hipótese de criação artística madura sem a pre-existência de uma tradição alimentadora. O escritor português do século vinte, segunda metade, deve saber mergulhar na tradição e logo de seguida regressar à superfície, vivo. Exactamente como um caçador submarino que desce doze ou quinze metros abaixo da tona do oceano para arpoar um mero que está no fundo, à porta da sua gruta.»

Texto de Sara Ludovico.
Fotografia de Gérard Castello Lopes.


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